sábado

Arte-Terapia



A Arte-Terapia é um tipo de psicoterapia que utiliza a expressão artística como instrumento terapêutico: cantar, dançar, desenhar, pintar, esculpir, recitar, representar e escrever são formas formas de expressão humanas primordiais.
Os diversos meios utilizados permitem ao inconsciente expressar-se e revelar aquilo que até então não era consciente, facilitando e enriquecendo o processo terapêutico.
Recorrer às metáforas e ao simbólico através da expressão artística permite aos pacientes com alguma resistência a expressão verbal , uma possibilidade de mostrarem os seus sentimentos de uma maneira alternativa e de certa forma divertida, facilitando assim uma reparação das problemáticas.
A Arte-Trapia é similar aos processos terapêuticos psicanalíticos, porque em sua metodologia utiliza-se em parte a livre associação das ideias e a expressão espontânea.
Por esta razão, o atelier de Arte-Terapia não é de todo um lugar para se dar aulas, nem uma terapia ocupacional que tem como objectivo a distracção.
É uma verdadeira “ferramenta” terapêutica de busca sobre si mesmo, que pode ser praticado tanto em sessões individuais como em grupo.

A Arte-Terapia funciona em três níveis:

1º) O Lúdico
“Criar brincando e brincar criando” poderia ser o lema desse nível, que visa fazer renascer e descobrir dentro de si a capacidade inerente de criatividade. Tomar contacto com os próprios dons e brincar como crianças, permite-nos estar no “aqui e agora”.

2º) O Terapeutico
Os actos simbólicos e criativos provocam uma verdadeira libertação emocional que age nos níveis físico, psicológico e energético. O atelier recria um espaço de segurança, onde a pessoa se dá o direito de através do acto criativo agir em sintonia na totalidade do seu ser. Sua acção é múltipla, permitindo entre outras coisas, uma melhor expressão das suas emoções e sentimentos, o estímulo da imaginação e da criatividade, o aumento da auto-estima e da confiança e também a capacidade de expressão, que proporciona um melhor conhecimento de nós mesmos.

3º) O Transformador
A arte terapêutica associa o processo de evolução psicológica com a criação artística. Devemos então considerar que a arte e o acto criativo tomam suas origem dentro do corpo (comparado ao magma original), como uma pulsão que nos religa a nossa parte arcaica e a nossa dimensão universal que chamamos de Tudo, Deus, Guia... Dentro da nossa psique, C.G Jung denominou-a de “Si Mesmo” (ver texto C.G.Jung).
Podemos então fazer uma analogia interessante entre o acto criativo e o processo alquímico, usando-o como uma metáfora psicológica aplicável ao acto criativo.
A transmutação alquímica efectua-se sobre a matéria (Prima Matéria) para
se poder criar a obra (Opus), a qual passará por diversos estágios transformadores do processo alquímico : calcinatio, solutio, coagulatio, sublimatio, entre outros.
De um ponto de vista psicológico, podemos considerar a Prima Matéria a
nossa Sombra, onde se esconde nossas pulsões arcaicas, conflitos, medos,
complexos, etc.
A Obra (alquímica e/ou artística) encontra sua fonte dentro da Sombra
(Prima Matéria) para que seja transformada, de maneira a produzir a Obra e
alcançar aquilo a que os alquimistas chamavam de Lapis: a Pedra Filosofal.
A Obra é de facto, todo o processo criativo de transformação para atingir a
“produção”final.
Por sua vez, a Obra Artística permite transformar nossas pulsões arcaicas e
convertê-las em matéria pura. É o momento da sublimação.
Podemos concluir então, que a Obra terminada contém também a
Prima Matéria. A simultaneidade da causa e efeito encontram-se reunidos
dentro do Lapis, mas também dentro do ser que terá produzido esta Obra .
Podemos então dizer que a Arte-Terapia proporciona a Transformação.

É preciso ser artista para se fazer terapia com a arte?

Claro que não! Não há necessidade de conhecimentos prévios das artes para fazer Arte-Terapia. Esse tipo de abordagem foi criada para estar ao alcance de todos. Não procuramos a técnica, nem o bonito, nem o correcto, mas sim e principalmente a expressão livre das emoções e as tomadas de consciência dos nossos padrões de comportamentos inconscientes, permitindo então a transformação.

Aliás, é muito importante salientar que quando uma nova paciente informa que pratica uma arte regularmente ( a pintura por exemplo), raramente iremos praticá-la na sessão de terapia.
Neste caso, iremos trabalhar modalidades artísticas que ela desconhece e de vez em quando observar e analisar obras que ela tenha feito em outras alturas da vida na área da pintura.

Então, podemos dizer que a arte cura?

Esta pergunta é comum e lógica depois desta explicação, no entanto, lamento dizer que a resposta é NÃO!

Então para que serve a Arte –Terapia?
É preciso que se perceba a grande diferença entre a arte praticada como passatempo ou profissionalmente e a arte usada para a terapia.
A primeira opção, isto é, a arte em si, não cura. Basta observar alguns dos grandes artistas como Dali, Van Gogh, Diaghilev, que foram génios na sua arte, mas que nunca conseguiram curar-se de suas doenças mentais. Aliás, era em grande parte as suas “loucuras” que lhes permitiam fazer tais obras. No entanto, se fossem feitas ao lado de um terapeuta, este poderia fazê-los compartilhar os seus momentos de crise, ajudando-os assim a ultrapassá-los. São os famosos artistas amaldiçoados, e é bem provável que se tivessem praticado a Arte-Terapia não teriam criados obras tão geniais!

No caso da arte terapêutica, a grande diferença é que a pessoa em sofrimento mental ou existencial está acompanhada e se encontra num espaço seguro debaixo do olhar complacente do terapeuta.

Quais são as doenças e problemáticas que a Arte-Terapia pode tratar?

A Arte-Terapia oferece um grande campo de acção terapêutica e pode ser utilizada nos seguintes casos :
• Depressão
• Stress pós-traumático (após um acidente, doença grave, aborto, parto, etc.)
• Perturbações da personalidade
• Problemáticas afectivas
• Stress, ansiedade e fobias
• Dependências químicas, com álcool e/ou drogas
• Distúrbios alimentares como a anorexia e a bulimia
• Crises existenciais resultantes de separação, divórcio, luto, mudança profissional, de país ou de região
• Procura voluntária de conhecimento de si mesmo ou de desenvolvimento pessoal

Oferece a vantagem de poder ser utilizada por todas as idades, em pessoas doentes (com cancro por exemplo), deficientes, psicóticos e também em idosas.

Quais são as modalidades artisticas utilizadas?

Alguns arte-terapeutas especializam-se numa arte em particular, como a dança, as artes plásticas, o teatro, etc.
No meu caso em particular , utilizo várias modalidades artísticas, por ter estudado e trabalhado com diversas artes antes de me tornar terapeuta, tais como : pintura, desenho, escrita, dança, modelagem, música, teatro, máscaras, mandalas, etc.
Toda esta variedade permite-me utilizar a arte adequada no momento certo da terapia (é possível que várias modalidades artísticas sejam utilizadas numa só sessão se o caso assim o exigir).
É de salientar que pintar uma tela não irá activar dentro da paciente o mesmo processo que a dança ao som de uma música. Tudo irá depender do momento, da pessoa e do que está se passando com ela naquele instante ou naquela fase de sua vida.

Que abordagem psicológica é utilizada nas sessões?

Isto é algo que varia de um arte-terapeuta para outro. Eu escolhi a abordagem Junguiana e Transpessoal (ver “categorias” C.G.Jung e Psicoterapia Transpessoal), porque a arte permite um contacto directo com o inconsciente e o mundo dos arquétipos.
Depois de terminada a minha formação clínica, comecei a estudar a arte-terapia, e a abordagem da psicologia feita por Jung era aquela em que na minha opinião fazia mais sentido, inclusivamente no que diz respeito ao trabalho com mulheres, visto que ele não se limitou à noção do Inconsciente pessoal, indo mais além na descoberta do Inconsciente colectivo (este e outros tópicos são explicados na secção dedicada à ele).
Numa primeira consulta é feito um levantamento da história clínica da paciente, onde é perguntado quais são as suas queixas e os objectivos que pretende alcançar com a terapia. Utilizo então o diagnóstico clínico que classifica os distúrbios da psique, pois este permite-me estabelecer uma estratégia terapêutica. Nas sessões seguintes, os trabalhos artísticos nos levam obrigatoriamente a interpretação na visão Junguiana e em determinadas situações na visão Freudiana.


Concluo este artigo a citar a conclusão do livro da arte-terapeuta francesa Nicole Weill (Ma pratique de l´art-therapie-Ed.Le souffle d’or) :
“Cheguei a conclusão que os artes-terapeutas não correspondem ao perfil típico dos analistas e psicoterapeutas, acredito sinceramente que constituem uma profissão diferente, uma nova corrente mas próxima ao xamanismo e ao misticismo. Uma sessão de arte-terapia equivale a uma cerimonia sagrada na qual o sentimento dominante é a devoção. Uma profunda devoção para o “Tudo” que o terapeuta reverencia no outro.
O Arte-Terapeuta é “um apaixonado” pelo Si mesmo (ou Eu superior que nos liga ao “Tudo”)»


© Nathalie Durel-2004-Todos direitos
A arte-terapia pode ser usada como psicoterapia no tratamento e cura da depressão.

1 comentário:

  1. margarida m. m. indaléciojunho 25, 2010

    Gostei muito deste trabalho,Sou terapeuta bioenergetica, mas gostaria muito de trabalhar com depressivos atraves da arte e principalmente a dança.
    Gostaria de conhecer mais de perto este trabalho,.É possivel ?
    Margarida

    ResponderEliminar